Um senador do Partido dos Trabalhadores fazendo vigília em frente ao Palácio do Planalto contra um possível veto da presidente da República, do próprio partido. É o que promete protagonizar na noite desta terça (16) Paulo Paim (PT-RS), veementemente contra que se impeça o fim do fator previdenciário, um dos pontos presentes na MP 664, que Dilma deve sancionar nos próximos dias, com ou sem vetos.

"Estou muito convicto de que, se a presidenta for coerente, ela não veta. Se ela vetar, nós vamos fazer de tudo aqui, até com vigília, para derrubar esse veto, porque é o projeto mais perverso que eu conheci na minha história no Parlamento", disse Paim, em entrevista exclusiva ao repórter Daniel Lian no Jornal Jovem Pan.

Paim ainda cobrou seus colegas petistas e disse que é "dever da base do governo Dilma/Lula derrubar esse projeto". "Nós quando éramos oposição no governo anterior, nós votamos contra, debatemos, criticamos, fizemos cartazes, e como é que agora a gente vai poder explicar que, com quase 13 ou 14 anos de governo, mantemos o fator previdenciário, que ataca os mais pobres?", discursou o senador.

O petista vê também uma mudança de discurso do ministro da Previdência, Carlos Gabas. Gabas disse recentemente que poderá haver um rombo de R$ 3,2 trilhões na Previdência até 2060 caso seja excluído o fator previdênciário. "Há 30 dias ele estava defendendo abertamente o fim do fator; eu mesmo tive reuniões com ele e ele estava defendendo o fim do fator", contou. "Começam a inventar esses números absurdos que faltam com a verdade, dados absurdos para que o trabalhador volte a pagar a conta", criticou. "É brincadeira, não é sério, fico muito indignado com esse argumento falacioso que falta com a verdade".

"Não tem essa de dizerem que a Previdência está falida", disse Paim, alegando que houve um superávit na pasta de "mais de R$ 50 bilhões, apesar de terem desonerado a folha, aberto a mão de R$ 70 bi (R$ 69 bi, na verdade) por ano".

"Meio termo"

O fator previdenciário reduz o valor do benefício para quem se aposenta antes dos 60 anos (mulher) ou 65 anos (homem). Já o modelo 85/95 estabelece como regra para o contribuinte receber o benefício integral, dependendo da soma da idade com tempo de contribuição (85 para a mulher, 95 anos para o homem). Ou seja, uma mulher de 55 anos que contribuiu pagou 30 anos de INSS já poderia se aposentar com valor integral.

Paim discorda da busca do governo de oferecer outras alternativas que não a fórmula proposta de 85/95. "A fórmula 85/95 já é o meio termo", afirmou. "Vir com outra fórmula para fazer uma média da média, da média, da média, é inaceitável".

"Ou o PT muda ou nós mudamos"

Questionado, por fim, se deixará o partido caso continua com políticas das quais discorda, Paulo Paim disse que tomará a decisão no final do ano. Mas aproveitou para criticar o modelo econômico adotada pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy.

Ele explicou por que não compareceu ao recente congresso nacional do Partido dos Trabalhadortes. "Entendi que não era o momento de participar, porque eu discordo radicalmente da política econômica liderada pelo Levy, que está 'atirando' em pescador, 'atirando' em desempregada", disse.

"O PT não pode entrar nessa. O PT tem que mudar o rumo dessa nau, que ela está indo para a catástrofe se continuar da forma que está", projetou.

"Ou o PT muda ou nós mudamos de curso na nossa história da forma de fazer política, fortalecendo sempre a democracia, mas defendendo causas e não coisas"